domingo, 15 de novembro de 2015

“Eu imaginei o rosto de cada pessoa que já amei e sussurrei ‘Eu amo você'”, diz sobrevivente




Na última sexta-feira (13), a cidade de Paris foi alvo de seis ataques terroristas simultâneos, registrados pouco antes das dez da noite. As informações divulgadas até agora falam em 129 mortos e mais de 350 feridos, 99 deles com gravidade.
Entre os pontos do atentado, estava o Bataclan, uma tradicional casa de espetáculos da França. Três homens armados detiveram centenas de reféns, entre eles a estudante sul-africana Isobel Bowdery, de 22 anos. Em um depoimento emocionante, ela relatou em sua conta no Facebook como foram os momentos de horror e deixou uma mensagem de conforto aos familiares que perderam entes queridos.
Leia na íntegra:
“Você nunca pensa que isso acontecerá com você. Era apenas uma sexta-feira à noite em um show de rock. A atmosfera era de felicidade e todos estavam sorrindo. E então, quando os homens vieram pela entrada e começaram a atirar, nós acreditávamos que era tudo parte do show.
Não foi apenas um ataque terrorista, foi um massacre. Dezenas de pessoas foram baleadas bem na minha frente. Poças de sangue no chão. Homens crescidos chorando e abraçando os corpos de suas namoradas. Futuros destruídos e famílias despedaçadas em instantes.
Chocada e sozinha, eu fingi que estava morta por mais de uma hora. Segurando minha respiração, tentando não me mover, não chorar – não dar a esses homens o medo que ansiavam ver. Eu fui incrivelmente sortuda por sobreviver. Mas muitos não foram. As pessoas que estavam lá exatamente pelo mesmo motivo que eu, se divertir em uma sexta-feira, eram inocentes.
Este mundo é cruel e atos como esses destacam a depravação dos seres humanos. As imagens desses homens circulando, como abutres, em volta de todos nós, vão me assombrar pelo resto da minha vida. A forma como eles mataram sem qualquer consideração pela vida humana. Não parecia real. Eu esperava que, a qualquer momento, alguém diria que era apenas um pesadelo.
Mas ser sobrevivente deste horror permite que eu seja capaz de lançar luz sobre os heróis. Para o homem que me tranquilizou e colocou a vida em risco enquanto eu choramingava, para o casal cujas últimas palavras de amor me deixaram pensando no bem do mundo, para a polícia que salvou centenas de pessoas. Para os estranhos que me pegaram na rua e me consolaram por 45 minutos enquanto eu acreditava que o garoto que amo estava morto. Para o homem que eu havia confundido com ele e, em seguida, depois que o reconheci, me segurou e disse que tudo ficaria bem, apesar de estar sozinho e assustado. Para a mulher que abriu suas portas para os sobreviventes, para os amigos que se ofereceram para comprar roupas novas comigo, assim eu nunca mais precisaria usar minha blusa suja de sangue. Para todos que me mandaram mensagens de apoio. Vocês me fazem acreditar que esse mundo tem potencial para ser melhor. Para nunca deixar que isso aconteça novamente.
Mas para todas essas pessoas que foram assassinadas, que não tiveram tanta sorte, que não acordaram hoje e para todo o sofrimento dos amigos e familiares, deixo o meu pesar. Sinto muito. Não há nada que conserte essa dor. Eu me sinto privilegiada por estar lá nos últimos suspiros deles.
Por acreditar que me juntaria a eles, posso prometer que os últimos pensamentos não estavam nos animais que causaram isso. Eles estavam pensando nas pessoas que amavam. Enquanto eu estava deitada sobre o sangue de estranhos e esperando a bala que acabaria comigo aos 22 anos, eu imaginei o rosto de cada pessoa que já amei e susurrei ‘Eu amo você’. De novo e de novo. Refleti sobre a minha vida, desejando que as pessoas que eu amo soubessem o quanto as amo, desejando que elas continuassem acreditando nas boas pessoas do mundo, apesar do que acontecesse comigo. Para não deixar que esses homens ganhem.
Na noite passada, as vidas de milhares foram alteradas para sempre e precisamos nos tornar pessoas melhores por isso. Para viver a vida que esses inocentes sonharam, mas infelizmente não puderam realizar. Descansem em paz, anjos. Vocês nunca serão esquecidos.”

Via: Mdemulher